Mensagem do dia 08-10-2007
Ser criança no terceiro milênio será fácil e prazeroso, ou um
desafio aos nossos pequeninos? Me pergunto:
O que acontece com eles quando a sociedade investe num amadurecimento
precoce e exigente, impondo um modelo de pequeno adulto a ser seguido?
O que tem de diferente a criança do terceiro milênio?O acesso à
internet, a velocidade das comunicações, o conhecimento precoce sobre
temas como clonagem, violência, transplantes e seqüestros, balas
perdidas, terrorismo, está mudando a natureza infantil?
Até que ponto o amigo virtual, a forma de brincar interagindo com a
máquina, o vídeo game e sua ética de adquirir novas vidas todas as vezes
que vence ou mata o adversário, o hábito de comprar brinquedos e não
construí-los e usar muito mais os dedos que as pernas , a brincadeira
sedentária e solitária, a presença da realidade substituindo a fantasia,
roupas de adulto,salto alto, baton e o namoro precoce, sobretudo a
sobrecarga de responsabilidade, horários e compromissos está mudando a
identidade infantil?
Mudaram as crianças ou mudamos nós?
No contato com milhares de crianças, que a minha experiência
profissional me permite, percebo que elas não mudaram. Têm um olhar
encantador de manhãs douradas, têm mãos inquietas como as do criador,
têm sorrisos abertos e doces como a brisa da tarde. Ganham tempo olhando
formigas, sentindo a terra e provando o orvalho sempre que
incentivadas.
Mudamos nós, que deixamos de falar de estrelas, sacis e cucas. Que
esquecemos de olhar o céu, de ver o manto estrelado da noite, de pensar
nas cores dos peixinhos do mar, nos brilhos dos raios do sol, nas cores
do arco íris. De cantar e contar histórias.
Ficamos estáticos, deixamos de voar nas asas das borboletas e dos
pirilampos. Trocamos a leveza dos sonhos e da fantasia pelo peso de uma
realidade que cai sobre nossos ombros e nos paralisa de tanto cansaço. A
nossa verdade ficou dura e a nossa realidade cinzenta.
Mudamos nós que apressamos a vida, que contabilizamos sorrisos, olhares,
palavras e dinheiro, que fazemos das crianças seres como nós, que
impomos etapas queimadas, que lhes impingimos agendas cheias de horários
estressados, roubando deles o tempo e o espaço de ser criança, a
ternura e a descomplicação de um ser que tem que ter seu tempo de
crescer normal, para existir completo.
Mudamos nós, quando nos conformamos com o que foi feito das nossas
crianças. Pequenos adultos com gastrite e colesterol, presos em
apartamentos, longe do sol, expostos à solidão do brinquedo eletrônico.
Aprendendo a vencer para não ser vencido, a matar para não ser morto, a
confundir a vida real com a realidade virtual.
Mudamos nós quando esquecemos a simplicidade de uma brincadeira que
favorece a intimidade e o toque, que aproxima mãos olhares e corações,
trocamos o pirulito que bate bate, a largata pintada a pintalaínha, a
brincadeira que investe na descoberta do outro na parceria na troca de
informação e cooperação, pela passividade de telespectadores e
cinéfi-los.
Brinco com crianças toda a minha vida, aprendi com elas que benéfico é
sempre o equilíbrio. Que elas tenham acesso a toda modernidade, mas
também sejam garantidas horas livres, companheiros, espaços de vida ao
ar livre, a oportunidade de inventar e criar seus próprios brinquedos,
de conviverem entre si e inter classes, para aprenderem a respeitar o
conhecimento alheio, valorizar a troca de saberes e desenvolverem uma
convivência democrática e participativa na sociedade que tem na sua
cultura da brincadeira, a identidade da infância brasileira.
Nairzinha/ pesquisadora da Cultura da Brincadeira Brasilleira
Mensagem do Dia Ana Maria Braga
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