Mensagem do dia 21-12-2011
"O verdadeiro amor nunca se gasta. Quando mais se dá, mais se tem".
(Saint Exupery)
Minha tese é a seguinte: o que falta para qualquer relacionamento dar
certo é o apelido. O homem e a mulher - ou o homem e o homem e a mulher
e a mulher, ninguém aqui tem preconceito - devem providenciar apelidos
um para o outro assim que o relacionamento der sinais de que vai ser
sério. Não valem apelidos já existentes, de infância. Os dois devem se
dar apelidos novos, só deles. Pichuchinha. Gongonzongo. Não importa que
sejam ridículos.
O apelido é uma forma de você tomar posse de outra pessoa. Dos dois
anularem suas identidades anteriores e assumirem outras, só deles. Por
isso a troca de apelidos entre namorados deveria ter a solenidade de um
batizado, sem padre nem testemunhas. Deveria ser um sacramento secreto,
um ritual particular de apropriação mútua, para toda a vida. Uma união
só é indissolúvel com apelidos. O único amor verdadeiro é o amor com
apelido.
Sei não. Romeu e Julieta... Não tiveram tempo de ser "Ro" e "Juju".
O Duque e a Duquesa de Windsor? "Bobsky" e "Bubsky". Li em algum lugar.
O importante é não esperar para se darem apelidos. Achar que com o
tempo os apelidos virão. É um erro pensar que uma união feliz produz
apelidos carinhosos. É o contrário: apelidos carinhosos produzem uniões
felizes.
Claro, há sempre o perigo de um apelido entre casais ser usado para
chantagem. Um homem chamado de "Tiquinho" em segredo pela mulher jamais
se separará dela com medo que ela espalhe o apelido e explique sua
origem.
E há casos pungentes.
- Bem, posso lhe pedir um favor?
- Qual é?
- Em vez de "Chururuca"...
- Sim?
- Pode ser "Morenão"?
- "Morenão"?!
- Ninguém vai ficar sabendo.
- Mas você nem moreno é!
- Eu sei. Mas eu prefiro "Morenão".
- Tá bem.
- Bem, posso lhe pedir um favor?
- Qual é?
- Em vez de "Chururuca"...
- Sim?
- Pode ser "Morenão"?
- "Morenão"?!
- Ninguém vai ficar sabendo.
- Mas você nem moreno é!
- Eu sei. Mas eu prefiro "Morenão".
- Tá bem.
Ela passaria a chamá-lo de "Morenão" quando estivessem sozinhos. Mas com uma ressalva:
- Sem efeito retroativo.
- Sem efeito retroativo.
(Luís Fernando Veríssimo)
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