"Os
homens são as verdadeiras mulheres
felizes".
Mensagem do dia 05-09-2008
Acabo de ler um livro de Eliette Abecassis, uma francesa que eu não
conhecia. O nome da obra, no original, é Un Heureux Événement, que pode
ser traduzido para Um Feliz Acontecimento, mas é um título irônico, pois
o livro trata sobre o fator que, segundo a autora, destrói as relações
amorosas: o nascimento de um filho.
Num tom exageradamente desesperado, a
personagem narra o fim do seu casamento depois que dá à luz. Concordo
que a chegada de uma criança muda muita coisa entre o casal, mas a
escritora carrega nas tintas e cria um quadro de terror para as mães de
primeira viagem. Se o nascimento de um filho é sempre desconcertante, é
preciso lembrar que é, ao mesmo tempo, uma emoção sem tamanho. De minha
parte, só tenho bons momentos a recordar, nada foi dramático.
Mas mesmo
que, por experiência própria, eu não compartilhe com a desolação da
autora, ainda assim ela diz no livro uma frase muito interessante. Ao
enumerar as diversas mazelas por que passam as criaturas do sexo
feminino, ela me veio com esta: "os homens são as verdadeiras mulheres
felizes".
Atente para a sutileza da frase. O que ela quis dizer?
Que os homens
saem pela porta de manhã e vão trabalhar sem pensar se os filhos estão
bem agasalhados ou se fizeram o dever da escola. Os homens não
menstruam, não têm celulite, não passam por alterações hormonais que
detonam o humor. Os homens não se preocupam tanto com o cabelo e não
morrem de culpa quando não telefonam para suas mães. Os homens comem
qualquer coisa na rua e o cardápio do jantar não é da sua conta, a não
ser quando decidem cozinhar eles próprios, e isso é sempre um momento de
lazer, nunca um dever. Os homens não encasquetam tanto, são mais
práticos.
Eu, que estou longe de ser uma feminista e mais longe ainda de
ser ranzinza, tenho que reconhecer o brilhantismo da frase: os homens
são mulheres felizes. Eles fazem tudo o que a gente gostaria de fazer:
não se preocupam em demasia com nada.
Porque nosso mal é este: pensar demais.
Nós, as reconhecidas como
sensíveis e afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais.
Alucinadamente cerebrais. Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as
mínimas até as muito mínimas. Somos mulheres que nunca estão à toa na
vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em indagações, tentando
solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora seguinte, no dia
seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos problemas,
sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24 horas.
Os homens, mesmo quando muito ocupados, são mais relax. Focam no que têm
que fazer e deixam o resto pra depois, quando chegar a hora, se chegar.
Não tentam salvar o mundo de uma tacada só. E a chegada de um filho,
ainda que assuste a eles, como assusta a todos, é algo para se lidar com
calma, é um aprendizado, uma curtição, nada de muito caótico. Eles não
precisam dar de mamar de duas em duas horas, não ficam fora de forma,
não enlouquecem. Isso é uma dádiva: os homens raramente enlouquecem.
Nós, nem preciso dizer. Nascemos doidas. Por isso somos tão
interessantes, é verdade, mas felicíssimas, só de vez em quando, nas
horas em que não nos exigimos desumanamente. Homens, portanto, são
realmente as verdadeiras mulheres felizes.
Que isso sirva de homenagem
aos queridos, e sirva pra rir um pouco de nós mesmas, as que se agarram
com unhas e dentes ao papel de vítimas porque ainda não aprenderam a ser
desencanadas como eles.
Martha Medeiros